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A Cidade de Deus

Santo Agostinho

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Esta é uma colecção de notas pessoais da leitura da obra A Cidade de Deus de Santo Agostinho. De modo algum substitui a leitura desta obra-prima, e pretende naturalmente aliciar o leitor a conhecê-la em profundidade. As reflexões aqui apresentadas não são as de Santo Agostinho, mas as minhas, inspiradas na palavra do santo.

LIVRO I

Capítulo IX

Causa dos castigos que atingem tanto os bons como os maus

Santo Agostinho afirma que, ainda que a pessoa seja de boa índole, ninguém é isento de falta, e por isso todos sofremos males temporais. É utilizada a palavra castigo, e para que a nossa compreensão deste conceito seja iluminada, remontaremos à sua origem etimológica.

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CASTIGO: do Latim CASTUS, “puro, limpo, sem falta”; o verbo CASTIFICARE significa “tornar casto, puro”.

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Portanto a expressão “Deus castiga” deve ser entendida como “Deus torna casto”, ou “Deus purifica”. Pelo menos, Deus procura fazer isso, mas ele só é bem sucedido se nós aceitarmos o castigo. Quando erramos produzimos consequências negativas e é o seu grau de nocividade que nos mostra a proporção do nosso erro ou pecado. Só com essa consciência podemos arrepender-nos, e é o mecanismo do arrependimento que auxilia o homem a purificar-se.

 

Portanto, se erramos, produzimos o mal, e ao ter consciência do mal que produzimos temos a oportunidade de exercitar e desenvolver a nossa liberdade moral – que se resume à escolha consciente entre repetir o mesmo comportamento ou desejar abandoná-lo.

 

Entendido assim, o castigo de Deus é tão natural como ter uma má nota num teste para o qual não nos preparamos devidamente. Esta má nota fará com que nos dediquemos mais na nossa aprendizagem, ou com que nos revoltemos contra o professor e o sistema – aqui estamos na arena da escolha.

 

Habituámo-nos a entender o termo castigo como algo vil e arbitrário, talvez porque os pretensos castigos ditados por homens careçam do essencial ao verdadeiro «castificare», que é a justiça, amor e misericórdia divinos.

 

Ao que atribui Santo Agostinho a causa dos males temporais dos bons? Já dissemos no início – ninguém é isento de falta. E a falta mais comum que Agostinho aponta nos bons é a passividade perante o mal. É geralmente por medo de represálias, por necessidade de manter uma reputação, ou por comodismo, que as pessoas se isentam de censurar comportamentos manifestamente maus e ajudar o perpetrador a orientar-se no caminho certo – ou seja, é geralmente por amor aos bens temporais que elas decidem isentar-se.

 

Agostinho disse isto há mais de 1600 anos, e hoje podemos constatar como esse fenómeno do “isentismo” ajudou a produzir uma sociedade cada vez mais relativista, incapaz de reconhecer o que é o certo e o errado, e propensa a aceitar e normalizar condutas imorais. Em certos momentos, ela vai mais longe, proclamando-se “amoral” - que é o mesmo que dizer desumana - tomando o prazer individual como medida do correcto.

 

Mas a pior consequência desse isentismo é mesmo a integração do mal manifesto na ordem social. Hoje, em 2021, quem defende a boa conduta, a necessidade de ordem moral, ou a soberania divina é considerado um perigoso extremista, enquanto quem defende a glorificação do prazer terreno e o abate dos grandes valores eternos pela supremacia dos caprichos humanos no seu mais baixo nível, é um paladino da justiça e do progresso.

 

Hoje é muito claro que o avanço desta agenda de desumanização é possível especialmente pelo fenómeno do isentismo moral.

Em Lucas 11 (14-23), Jesus afirma que um reino dividido contra si mesmo não sobrevive, é destruído. Esta lei é análoga para o indivíduo. O homem dividido, fragmentado, amputado no espírito e servo de paixões temporais, desintegra-se, dispersa-se, não alcança unidade, portanto não é «indivíduo» (indivisível). Por consequência de não tender para a unidade, tende para a inexistência. Não se pode servir a dois mestres. Por isso Jesus diz:

Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa.

Lucas 11, 23

Mas todos os pecadores são perdoados, excepto aqueles que rejeitam consciente e activamente o perdão, ao recusarem ver e querer a oportunidade de redenção em cada «castigo» que Deus lhes oferece. Deus procura-nos activamente, e toda a nossa vida é um chamamento do Espírito. Por isso o perdão está sempre ao virar da esquina, e o castigo divino - castificare, tornar puro - é a porta aberta para o perdão.

11 de Março de 2021

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FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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