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O Plano Soviético de Estado Mundial

Elliot R. Goodman

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Este resumo é uma colecção de pequenas notas sobre o livro. Pretende, em poucas linhas, apresentar a ideia central de cada subcapítulo e, quando oportuno, apresentar uma ou outra reflexão minha suscitada pelas informações lidas. As reflexões estarão destacadas.


 

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I. Marx, Engels e o Estado Mundial

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O conceito de nacionalismo

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No conjunto dos seus escritos, é difícil estabelecer qual era a sua concepção de nação, se é que tinham uma concepção definida. Parece haver uma elasticidade na maneira como esse termo é usado, significando, em contextos distintos, país, Estado, classe dominante de um país, ou uma comunidade unida por interesses comuns.

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O que é certo é que consideravam as nações entidades temporárias, passíveis de se criar e de se destruir, ao passo que a classe suplantava a nacionalidade como elemento identitário.

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No Manifesto Comunista encontramos simultaneamente as afirmações

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"os trabalhadores não têm pátria",

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mas

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"Uma vez que o proletariado deve antes de tudo conseguir a supremacia política, alçar-se à posição de classe dirigente da nação, constituir ela própria a nação, é o proletariado portanto, por si mesmo, nacional, embora não no sentido burguês da palavra".

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Fica claro que um dos objectivos do Manifesto Comunista é trocar a classe dirigente; e o conceito de nação, em Marx e Endels, não possui um significado claro, mas adapta-se aos fins propagandísticos deste movimento.

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O mundo inteiro como arena

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Marx e Engels viram como a industrialização impulsionou o mercado mundial que, por sua vez, aproximou e criou vínculos entre os povos de diferentes nações. O mesmo fenómeno, segundo eles, intensificou o sentido de classe burguesa e classe proletária, o que na sua lógica tornou inevitável a luta entre as duas. 

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Reflexão:

A luta de classes, segundo a lógica marxista, desemboca invariavelmente na revolução da classe dominada e no derrubo da classe dominante, no caso, a classe proletária eliminaria a classe burguesa. O que é curioso é que a realidade dos factos sucedidos posteriormente à Revolução Industrial mostrou o oposto - a classe proletária, por meio dos caminhos abertos pelo capitalismo, encontrou uma forma de ascender financeira e socialmente. A possibilidade de aquirir propriedade transformou, e tem sempre o potencial de transformar um proletário num membro da classe média.

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O advento da classe média pode ser visto como a extinção do proletariado, não pelo meio marxista, isto é, pela revolução violenta ou pela tomada do poder estatal, mas pela aquisição de bens e meios de melhorar a sua condição de vida. 

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Enquanto a retórica marxista exorta seus seguidores de um modo que a necessidade de poder se torne o centro da sua existência, produzindo no caminho inúmeras tragédias, a realidade é que o ser humano comum precisa apenas viver bem. Ao inocular este desejo simples com uma necessidade doentia por poder, o marxismo coloca em risco a felicidade e a paz dos seres humanos comuns.

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Pela globalização e pela intensificação da consciência de classe, segundo Marx e Engels, a revolução socialista/comunista seria inevitavelmente levada a todos os cantos do mundo.

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A condição para a paz universal

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Para Marx e Engels, a única via de alcançar a paz era "o fim da exploração do homem pelo homem", e este feito poderia ser concretizado apenas pelo socialismo. Mas Marx confundiu (conscientemente ou não) a raíz dessa exploração. Por pensar a estrutura económica como a principal, em torno da qual todos os outros sectores da sociedade se organizam, assumiu que a raiz da exploração era o amor perverso pelo dinheiro, mas não reflectiu sobre o amor perverso pelo poder.

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Seguindo este raciocínio, considerou que era a propriedade privada que originava esse mal, e por isso assumiu que a consequência lógica da socialização da propriedade fosse o fim da necessidade de exploração, isto é, do domínio de um homem sobre o outro.

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Reflexão:

Sendo que o proletário é, por definição, aquele que não possui propriedade, estava justificada a elevação dessa figura a agente revolucionário. Embora Marx proclamasse suas teorias como científicas, não podemos deixar de apontar a arbitrariedade com que ele tratou o conceito de "proletário".

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Ser proletário não é uma categoria do mesmo género de ser homem. "Homem" é condição ontológica, substancial, e não acidental ou relativa. Já ser proletário é acidental e relativo; acidental porque é possível um homem deixar de ser proletário, enquanto nunca pode deixar de ser homem; relativo porque ele só é proletário relativamente à sua condição económica, enquanto é homem sempre, para sempre, e em qualquer circunstância.

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Mas Marx escreveu sobre o proletário como se fosse condição ontológica, por exemplo, quando diz que a revolução deveria ser permanente "até que o proletariado houvesse alcançado o poder estatal"Ora, para alcançar o poder estatal é estritamente necessária a posse de meios de acção e de capital a um nível ao qual não se chega poupando do salário de proletário. Então, o homem que começa proletário, quando chega ao poder estatal já não o é mais, pois ter poder estatal é ter a posse dos meios de acção e de produção a uma ampla escala, mesmo que não de forma oficial, mas de forma concreta.

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Estabelecido que o proletariado era o único grupo capaz de vencer o problema da exploração e da opressão, era por excelência o portador da solução para a paz mundial. Este falso postulado conferiu uma superioridade moral à figura do proletário, bem como a qualquer um que se identificasse como tal ou que defendesse o movimento comunista. E assim Marx forneceu a justificação para qualquer crime que se veio a cometer debaixo do estandarte comunista, por mais desprezível que tenha sido. 

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A forma do Estado Mundial Proletário

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Marx e Engels desvalorizavam as identidades nacionais, mas sobrevalorizavam a identidade classista. O movimento proletário internacional era visto por eles como uma "República Mundial", a qual seria estabelecida pela "ditadura revolucionária do proletariado", um período necessário de transição do capitalismo para o comunismo.

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Reflexão:

Mais uma vez, uma reflexão surge de forma imediata perante as ideias confusas de Marx e Engels. Postularam eles que o comunismo se seguiria obrigatória, necessária, e inevitavelmente ao capitalismo; no entanto, era também necessária uma ditadura levada a cabo pela classe proletária num esforço de oprimir, violentar e explorar a classe capitalista - enquanto a justificação teórica para o avanço do comunismo era a paz mundial.

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As questões que surgem são:

1) Se o comunismo vem inevitavelmente a seguir ao capitalismo, porque é necessário forçá-lo? E se é necessário forçá-lo, não significa isso que ele não é inevitável?

2) Se o objectivo é o fim da opressão e exploração do homem pelo homem, mas para tal o proletário se deve tornar um agente opressor, o que garante que essa opressão algum dia terminará?

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A resposta à primeira é simples: o comunismo não é inevitável; e depois de todas as tentativas de implementá-lo terem resultado em tragédia e morte, está mais que provado que ele deve, ao contrário, ser evitado.

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A resposta à segunda é igualmente simples: a opressão comunista não terminará nunca, pois ela é fundamentada na ideia de que todos nós devemos pensar, sentir e nos comportarmos segundo os ditames arbitrários de qualquer que seja a chefia comunista do momento. 

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O Estado ou República Mundial de Marx e Engels caracterizavam-se, em essência, pela centralização do poder de acção e decisão, e pela planificação, a partir desse centro, sobre todos os sectores da sociedade. É, portanto, um projecto de poder totalitário. Distinguia-se do federalismo, mas admitia-o como um estágio temporário no rumo para a centralização total.

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Do Estado Mundial para o Fim do Mundo

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Marx e Engels afirmavam que o Estado - entendido como o poder de opressão de uma classe por outra - definharia no momento do auge da organização altamente centralizada dos meios de produção. Para eles, o Estado deveria ser destituído do carácter político e imbuído apenas da qualidade administrativa.

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Apesar das teorias comunistas terem algo em comum com as anarquistas, Marx não era anarquista. Apenas considerava a anarquia do proletariado necessária na fase inicial da revolução, pois ela desagregaria a concentração do poder político e abriria o caminho à ditadura do proletariado, que por sua vez aboliria as classes, levando ao desaparecimento do Estado. Enquanto os anarquistas advogavam o federalismo, Marx insistia no centralismo.

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Reflexão:

A linguagem marxista tem um carácter peculiar. Parece inteligente porque é ambígua e dotada de uma obscuridade atractiva, mas no fim acaba por ser como um buraco negro que suga qualquer inteligência real. Pensemos nisto: para Marx e Engels, o Estado devia ser todo-poderoso e omni-presente, e uma vez alcançada essa façanha, ele desapareceria. Estamos perante uma impossibilidade que continua a atrair pessoas para a causa, não obstante a sua profunda incoerência e inverossimilhança.

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Tal acontece poprque Marx e Engels definiam "Estado" (ao menos assim parece neste contexto) como a entidade que oprime a classe proletária - a classe burguesa. Deste modo, o que "definharia" não seria o Estado no sentido de poder governamental, mas sim a classe burguesa como detentora desse poder.

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É um jogo de palavras. Ao invés de dizerem a verdade, isto é, que outras pessoas - os presumíveis proletários - ocuparão o poder, dizem que o Estado se definhará, levando os mais ingénuos a crer que será a própria estrutura de poder e hierarquia a desaparecer.

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A metamorfose do homem


Para quem começa a aprofundar o estudo do fenómeno marxista/comunista, torna-se patente a presunção de que a natureza humana pode e deve ser transformada. É um traço comum entre pessoas que apoiam movimentos e teorias behavioristas ou desconstrucionistas. Torna-se, também, patente a propensão para a contradição no seio das próprias teorias marxistas ao longo dos séculos, fenómeno que começa na raíz.

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Por um lado, Marx advoga que a sociedade deve ser estritamente regulamentada e planificada, e o controlo sobre tal regulamentação deve ser centralizado. Por outro, afirma que os indivíduos, no futuro comunista, seriam mais livres e independentes, voluntariamente afins a tal modelo de sociedade, e seriam auto-governados e não coagidos.

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Reflexão:

É lógico que tal "liberdade" seria alcançada por meio de uma coacção atroz - e foi isso mesmo que aconteceu em todas as sociedades que tentaram implementar o comunismo. Mas existe outro meio pelo qual ainda tentam transformar a natureza do homem - o método Gramsciano. O método Gramsciano é a implementação do comunismo de forma quase imperceptível. Como o sapo que, colocado numa panela de água fria, não reage à mudança gradual da temperatura enquanto ela aquece, acabando por morrer fervido sem ter tido qualquer suspeita do que estava ocorrendo. Assim é a revolução cultural comunista dos nossos dias. A cosmovisão marxista tem vindo a ser implementada pouco a pouco, sobretudo no ensino e no entretenimento, de tal modo que a maioria de nós - especialmente jovens - não suspeita que a forma como vemos o mundo é bastante recente.

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Marx e Engels descreviam um ideal de futuro onde o indivíduo não teria amarras profissionais, podendo exercer actividade em qualquer sector, a qualquer hora do dia; simultaneamente, advogavam a necessidade de controlo cada vez mais estrito e rigoroso por meio da planificação da sociedade, especialmente no que diz respeito ao trabalho e ao sector económico. É escusado dizer que o primeiro anula o segundo, e vice-versa.

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Acreditavam que desapareceriam os vínculos ao trabalho, à ordem social e à família. Consideravam a família uma "hipócrita transação comercial", e advogavam que na sociedade comunista os casais deveriam unir-se apenas em torno do desejo sexual temporário. Isto é, rejeitavam toda a responsabilidade e aprendizagem moral que advém da vida e do compromisso familiares.

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Dizia Engels que no futuro "os serviços domésticos privados se transformariam em serviço social. O cuidado e educação dos filhos se tornariam assunto de carácter público".

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A sorte das nações

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Apesar da definição dúbia que tinham de nação, consideravam que as minorias étnicas que eram, de certo modo, absorvidas em nações grandes, eram "os mais fanáticos instrumentos da contra-revolução (...) de vez que toda sua existência não é senão um protesto contra a grande revolução da história".

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Será seguro deduzir desta afirmação de Engels que ele achava que as identidades étnicas deveriam desaparecer, e que a evolução e o progresso histórico tenderiam a uma comunidade global. Em Russian Menace, escreveu que

 

"a missão principal de todas as outras raças e povos [além dos alemães, magiares e polacos] - grandes e pequenos - é perecer no holocausto revolucionário"

 

E no mesmo manuscrito, ainda escreve:

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"A guerra geral que então estourará, despedeçará esta liga eslava e essas nações insignificantes e teimosas serão destruídas de tal modo que delas nada restará senão os nomes. A futura querra mundial fará desaparecer da face da terra não só as classes reacionárias e dinastias, mas também povos inteiros reacionários. E também isto há de constituir um progresso"

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Não estamos muito longe da verdade se dissermos que o genocídio não era errado para os fundadores do comunismo.

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Embora inicialmente tivessem teorizado o comunismo como a dissolução das classes e nacionalidades, Marx foi forçado a rever a sua opinião quando verificou que certas qualidades de carácter nacional - como o idioma, por exemplo - não se dissolvem assim tão facilmente.

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A interpretação soviética da doutrina marxista

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Este é o tema do qual o livro inteiro se ocupa, que será tratado nos capítulos subsequentes.

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O Conceito de nacionalismo
O mundo inteiro como arena
A condição para a paz universal
Forma do Estado Mundial Proletário
A metamorfose do homem
A sorte das nações
A interpretação soviética da doutrina marxista
Do Estado Mundial para o Fim do Mundo

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NO PRÓXIMO CAPÍTULO

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II. O Estado Mundial como explícito objectivo soviético

Visão pré-revolucionária do sistema de nação-estado

A revolução bolchevista e a iminência de um estado mundial

A União Soviética como protótipo do Estado Mundial

O tema do Estado Mundial a meia voz

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FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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