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A Vida Intelectual

A.-D Sertillanges

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Este resumo não se propõe a substituir a leitura da bela obra do Pe. Sertillanges, mas pretende apresentar o núcleo dos ensinamentos por ele transmitidos, aliciando o leitor a conhecê-la em profundidade. Uma das finalidades no LABORATORIUM é fazer uso do conhecimento do passado ao olhar o presente, portanto procuraremos atender aos problemas contemporâneos ao estudar esta obra. Este resumo é, simultaneamente, um manual de estudo e uma reflexão filosófica.


 

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Capítulo IV – O tempo do trabalho

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Cada um de nós tem o seu ritmo, e esse ritmo pode mudar ao longo da vida. Por vezes ele é vantajoso e assegura o bom funcionamento do nosso ofício; já em outras, ele é destrutivo e impede-nos de realizar as nossas aspirações; e, por fim, alguns de nós vivem numa arritmia que, embora às vezes funcione, traduz-se num descompasso que nos deixa vulneráveis e à mercê das cirsunctâncias. Não podemos controlar tudo, mas queremos obter algum domínio sobre a nossa vida e o nosso trabalho.

Neste capítulo, o Pe. Sertillanges sugere uma forma de organizar o tempo inspirada na vida monástica. Mas se o leitor já logrou o ritmo adequado para si, ou, por circunstâncias que lhe são indomáveis, não pode organizar-se da forma sugerida, não se inquiete. O importante neste capítulo não é tanto o horário do trabalho quanto a intenção colocada em cada tarefa e a distribuição sensata do nosso tempo.

Prossigamos.

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I – O trabalho permanente

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I - O trabalho permanente

Dissemos que um intelectual deve ser intelectual todo o tempo. Esta máxima refere-se sobretudo à atitude de abertura e de receptividade à verdade dada pelo cultivo do espírito de oração. E o que é a oração, senão a expressão de um desejo? Diz Sertillanges:

“É preciso orar sempre equivale a afirmar: é preciso desejar sempre as coisas eternas, as coisas do tempo que as servem, o pão quotidiano de toda a natureza e de toda a oportunidade, a vida em todas as suas amplidões, terrestres e celestes.”

Se mantivermos este desejo, estamos permanentemente no umbral do caminho da verdade. Este é o primeiro requisito para uma vida intelectual frutífera. Porém, nós também somos parte máquina, temos automatismos, e a calibragem do nosso "piloto automático" depende do programador. Dito de forma mais simples, grande parte do nosso comportamento é determinado pelo hábito, e o hábito pode ser mudado por meio da disciplina. A nossa primeira tarefa, como filhos do desejo de saber, é programar o nosso "piloto automático" segundo esse desejo de saber.

Não é tanto pelo esforço, mas pela constância e pelo entusiasmo de nos descobrirmos como crianças do Reino. Ao forçar algo a um fim, arriscamo-nos a produzir o seu contrário, por isso há que encontrar a forma mais harmoniosa de trabalhar com "a máquina". A maneira mais eficaz é pela persistência. Diz Sertillanges que o que importa para o homem de verdade é compreender que a verdade está em toda a parte, e o desejo de saber desperta nele os sensores capazes de identificá-la, «pois todo o que pede, recebe; e quem busca, acha.» (Mateus 7:8)

Relembramos: as ideias estão nos factos; estão no mundo real, no mundo das relações; brotam de qualquer fonte, e qualquer elemento da existência nos pode abrir caminhos para o conhecimento da verdade. «Qualquer facto pode gerar um sublime pensamento», «Em toda a contemplação, mesmo na duma mosca ou duma nuvem que passa, há oportunidade de reflexões sem fim».

Eis a ideia-chave desta lição: a verdade não está escondida, está presente em toda a parte - cabe a nós permanecermos num estado interior favorável à captação da verdade. Pois acontece que, o «quem busca, acha», serve também para a mentira - quem busca falsidades ou ilusões as achará. Isto é comprovável; tudo se resume ao objecto do nosso desejo: queremos a verdade ou a auto-gratificação? Idealmente, estes dois elementos aparecem juntos, numa relação hierárquica e sequencial - primeiro a verdade, e a gratificação vem a nós pelo compromisso que temos com a primeira; porém, se invertermos a relação - primeiro a auto-gratificação, em detrimento da verdade - corremos o risco de corrompermos os nossos "sensores" de verdade, terminando por viver num mar de ilusões.

Quantas vezes, no instante em que compreendemos algo vital, percebemos que esse algo esteve escancarado a nossos olhos durante toda a nossa vida? Pois o que muda é a nossa atenção, e não o facto. «As grandes descobertas são apenas reflexões sobre factos comuns a todos».

“Numa cidade não vejais somente casas, mas vida humana e história. Que um museu vos não mostre apenas quadros, mas escolas de arte e de vida, concepções do destino e da natureza, orientações sucessivas ou diversas da técnica, do pensamento inspirador, dos sentimentos. Que uma oficina não vos fale apenas de ferro e de madeira, mas da condição humana, do trabalho, da economia antiga e moderna, das relações entre as classes. Que as viagens vos ensinem a conhecer a humanidade; que as paisagens evoquem a vossos olhos as grandes leis do mundo; que as estrelas vos falem das durações incomensuráveis; que as pedras do caminho sejam para vós o resíduo da formação da terra; que a vista duma família se associe em vós à das gerações, e que a menor frequentação vos informe sobre a alta concepção do homem. Se não souberdes olhar assim, tornar-vos-eis banal, se é que já o não sois. O pensador é um filtro onde a passagem da verdade deixa o melhor da sua substância.”

A filosofia, diz Olavo de Carvalho, é «a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência, e vice-versa». Mas o filósofo é um homem, e este empreendimento é apenas possível dentro dos limites do homem e dos limites do mundo real. Não é possível a um único indivíduo conhecer tudo de forma perfeita, como Deus, e uma das razões para tal é que a vida humana tem prazo, e simplesmente não temos tempo. O que podemos fazer é focarmo-nos em certas questões e trabalhá-las filosoficamente. Assim, seguindo o conselho do Pe. Sertillanges, devemos aproveitar tudo o que captamos nesse espírito de abertura à verdade para trabalhar as questões que decidimos investigar

O sensato é escolhermos temas que nos afectem pessoalmente, que nos "tirem o sono", isto é, as questões das quais a nossa vida, ou o sentido da nossa vida depende. Mas não tomemos esta tarefa com pesar, senão com alento. Somos seres humanos, somos dotados de inteligência, e faz parte da nossa condição gravitarmos em torno do transcendental. 

Cuidado com o esforço exagerado. Como já dissemos, não se trata de forçar o cérebro, o pensamento, o corpo, ou a "máquina", mas sim discipliná-los, «sem pressa e sem pausa», de forma a que o hábito de olhar o mundo com o desejo de conhecer a verdade se torne nossa segunda natureza. Chegará o momento em que clarezas brotarão espontaneamente e o nosso discernimento estará mais acurado.

“Por toda a parte o seu universo interior se confronta com o outro, a sua vida com a Vida, o seu trabalho com o incessante trabalho dos seres, e ao sair do estreito espaço em que o seu estudo se concentra, sente a impressão, não de abandonar a verdade, mas de lhe abrir a porta de par em par”

Ideias-chave deste subcapítulo:


 

  • Um intelectual deve ser intelectual todo o tempo, numa permanente atitude de abertura e de receptividade à verdade dada pelo cultivo do espírito de oração.

  • A oração é a expressão de um desejo, e o objecto do nosso desejo devem ser as coisas eternas.

  • Grande parte do nosso comportamento é determinado pelo hábito, e o hábito pode ser mudado por meio da disciplina.

  • Ao forçar algo a um fim, arriscamo-nos a produzir o seu contrário, por isso a forma eficaz de disciplinar o hábito é pela persistência e pela renovação do entusiasmo.

  • O que importa para o homem de verdade é compreender que a verdade está em toda a parte - cabe a nós permanecermos num estado interior favorável à captação da verdade.

  • A filosofia, diz Olavo de Carvalho, é «a busca da unidade do conhecimento na unidade da consciência, e vice-versa».

  • Devemos aproveitar tudo o que captamos em espírito de abertura à verdade para trabalhar as questões que decidimos investigar.

  • O sensato é escolhermos como foco do trabalho as questões das quais a nossa vida, ou o sentido da nossa vida depende.

II - O trabalho nocturno

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II – O trabalho nocturno

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“(...) é preciso dormir: é indispensável o sono reparador. Dizemos apenas que a noite, como noite, pode trabalhar por si, que é "boa conselheira"; que o sono, como sono, é artista útil; que o repouso, como repouso, é também força. Aproveitemos estes auxílios, consoante a natureza deles e não violentando-os. O repouso não é morte; é vida, e toda a vida produz frutos.”

O sono é «a abdicação do querer consciente que não pensa em viver nem se propõe um fim, mas que se entrega, em parte, à natureza geral». Dormir é entregar-se ao sustento do Universo. Quando dormimos estamos inconscientes, e damo-nos a essa inconsciência porque confiamos na manutenção da Vida, além do nosso controlo.

O bom sono é aquele que, além de ser reparador, organiza os pensamentos e as ideias servindo-se do material que colhemos durante o dia. Daí a importância do alimento que damos ao cérebro e o estado em que nos colocamos quando nos deitamos para dormir.

Os monges têm o hábito de se colocar no ponto de meditação quando se recolhem para descansar do dia. Podemos utilizar este momento para rever o nosso propósito e colocar para o universo as questões que nos são importantes, confiando que, ao nos rendermos à natureza mergulhando no sono, elas possam ser clarificadas.

"Antes de adormecer, retornai a questão que vos preocupa, a ideia lenta ou renitente em desdobrar as suas virtualidades, e confiai-a a Deus e à alma. Não façais esforço que retarde o sono, mas acalmai neste pensamento: o universo trabalha para mim; o determinismo é escravo da liberdade e, enquanto descanso, ele rodará a sua mó; posso adiar o esforço: os céus rolam e, rolando, movem no meu cérebro as rodas delicadas que eu porventura teria desgastado; eu durmo, a natureza vela, Deus vela e, amanhã, recolherei um pouco do trabalho efectuado por ambos."

Sertillanges considera que o noctívago é mau trabalhador. As pessoas que gostam de trabalhar de noite parecem ser atraídas pelo silêncio característico desse momento. As distracções reduzem-se significativamente e parece-nos mais fácil a concentração. Porém, o autor d'A Vida intelectual sugere que se delegue o trabalho nocturno para o sono em si. 

Quando temos o hábito de trabalhar à noite, tendemos a gastar mais energia do que o necessário, e quando damos o dia por terminado, adormecemos de exaustão. Não é o que se pretende aqui. Queremos adormecer em meditação, e não abusar do corpo.

Sertillanges sugere que tenhamos um caderno e uma caneta à mão para apontar as luzes que por vezes nos despertam durante o sono. Diz ele que é melhor esse acto do que esforçarmo-nos por memorizar a ideia que nos veio - pois o sono é repouso do querer.

Por vezes, as clarezas vêm de madrugada, ao acordar: o sono completou o trabalho feito por nós no dia anterior; as pontas soltas foram atadas pela ausência da nossa intervenção, que por vezes nos bloqueia. Se isto acontece, fazemos bem em apontar as ideias que nos foram inspiradas, sem nos preocuparmos com a forma, mas apenas com o registo.

“Do mesmo modo que o trabalho suave e regular harmoniza o dia, assim o trabalho inconsciente da noite pode derramar nele a paz e afastar as divagações, as insanidades esgotadoras ou pecadoras, os pesadelos.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • O bom sono é aquele que, além de ser reparador, organiza os pensamentos e as ideias servindo-se do material que colhemos durante o dia.

  • Utilizar o momento de recolher para colocar ao universo as questões que nos são importantes, confiando que, ao nos rendermos à natureza mergulhando no sono, elas possam ser clarificadas.

  • «O universo trabalha para mim; o determinismo é escravo da liberdade»

  • Queremos adormecer em meditação, e não abusar do corpo.

  • Apontar as ideias que nos foram inspiradas, sem nos preocuparmos com a forma, mas apenas com o registo.

  • Ter um caderno e uma caneta à mão para apontar as luzes que por vezes nos despertam durante o sono.

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III – A madrugada e os serões

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III - A madrugada e os serões

“A manhã é sagrada. De manhã, a alma refrescada considera a vida como dum píncaro, onde ela se lhe mostra inteiramente. O destino está aí; recomeça a faina; é o momento de a julgar uma vez mais e de confirmar, por um acto expresso, a nossa tripla vocação de homens, cristãos e intelectuais.”

As manhãs

 

O primeiro despertar - O homem desperta da inconsciência a cada manhã, e a cada despertar ele renova e reafirma o acto do querer. Diz Sertillanges que o primeiro despertar deve ser um «Sursum Corda!» - «Corações ao Alto!». O homem acabou de sair do adormecimento e é agora um agente no mundo, e esta condição enobrece-o quando ele se percebe como um ser perante Deus, um ser único e irrepetível, e por isso insubstituível.

A oração matutina - A oração matinal revela e releva o nosso desejo interior de conhecer a realidade da Criação e de caminhar na verdade. O autor sugere que o intelectual recite a Prima, porém, o que realmente importa na oração do intelectual é que ela surja da honestidade do seu coração, que seja como um farol no nevoeiro; nela está concentrada a luz que aponta o caminho, o bom porto; e nós, que ao longo do dia podemos vaguear no mar escuro, voltaremos o nosso olhar para essa luz que nos relembra o propósito, o destino.

A meditação - De seguida, a meditação. Vale aqui referir que a "manhã" a que Sertillanges se refere é a madrugada. É, portanto, aquela hora em que ainda há silêncio e repouso no exterior, e que por isso é favorável ao acto de meditar. É o momento, digamos assim, antes do começo da actividade e do borbulhar quotidiano, e que serve de preparação para enfrentar e realizar mais um dia.

A missa - O autor recomenda também a celebração da missa, pois ela coloca-nos num «estado de eternidade». Ouvir ou ler a Palavra, contactar com as inspirações mais sublimes, eis um dos alimentos do espírito que nos impregnará de um sentido de missão, essencial à higiene do nosso trabalho.

“A madrugada impregnada deste orvalho, refrescada e vivificada por estas brisas espirituais, não pode deixar de ser fecunda; acometê-la-eis com denodo; o dia gastará as provisões de luz da aurora; a noite virá antes do esgotamento das claridades, como o ano se encerra deixando sementes nos celeiros para o ano futuro.”

Os serões

“O fim do dia! Não sabemos de ordinário santificá-lo, apaziguá-lo, prepará-lo para o sono verdadeiramente reparador. Malbaratamo-lo, poluímo-lo, desorientamo-lo!”

Quer parecer que o "repouso" do homem comum do nosso tempo é a dispersão do espírito. Que hábitos temos como sociedade? Às horas pós-laborais chamamos "tempos livres", e às laborais chamamos "trabalho", como se Liberdade e Trabalho fossem dois antagonistas. Não é por acaso que escolhemos para o segundo uma palavra que remonta à ideia de prisão e tortura (do Latim TRIPALIUM, um instrumento de tortura com três, TRI, pedaços de madeira, PALUM).

Este pensamento evoca a necessidade de uma reflexão séria sobre a forma como organizamos o trabalho em sociedade, e acima de tudo, como negligenciamos a importância da vocação. Não vivemos numa sociedade em que o que motiva a maior parte de nós para o trabalho é de raiz meramente material? Quantos médicos o são por vocação, e não por prestígio e riqueza material? Quantos intelectuais o são por vocação, e não por desejos de ascenção e domínio social? Poderíamos colocar esta questão relativamente a todas as profissões. Não pretendemos, para já, alongar-nos nesta reflexão, mas deixaremos a pergunta: quantos de nós trabalham por vocação, e quantos de nós ocupam lugares que não são a nossa vocação, mas a de outros?

Retomando, é essencialmente porque mantemos trabalhos que não nos dignificam ou realizam que sentimos a necessidade de abusar do nosso "tempo livre" para actividades catárticas. Por isso, ao fim do dia, em vez de descansarmos em leituras ou filmes, informativos ou de lazer construtivo, esgotamo-nos no entretenimento estupidificante que apenas nos inflama desejos carnais ou nos oferece a evasão; em vez de descansarmos em actividades suaves ou num modo de estar mais passivo, esgotamo-nos nas festas, nos cafés, no álcool, nas drogas, na loucura.

Ensinamos os jovens a amar a noite; não a noite materna, essa que nos recebe no seu seio para nos revivificar, mas a noite das ilusões, que nos quer fazer acreditar que "o que acontece na noite, fica na noite". É uma atracção perigosa para um jovem; a adolescência é caracterizada pela necessidade de emancipação, e a nossa sociedade estabeleceu como símbolos dessa emancipação o álcool, as drogas, enfim, a vida que tem como propósito a morte. No entanto, o dia seguinte amanhece, e com ele não desaparecem os vestígios da noite anterior. É por este motivo que importa sobremaneira a preparação do sono. 

“À noitinha, devemos entregar-nos aos ritmos suaves, de que a respiração nocturna é o modelo. Deixar que se exerçam em nós determinismos fáceis, que os hábitos substituam as iniciativas, que o ramerrão familiar tome o lugar do esforço da actividade ardente, numa palavra, cessar de querer, dum certo modo, para inaugurar a renúncia da noite: eis a sabedoria.”

Para este momento do dia, Sertillanges sugere as orações Completas. É a oração que fecha o ciclo diário e se prepara para inaugurar o dia seguinte. É como o enterro da semente, que no escuro da noite materna se aconchega e se alimenta, e com o orvalho da manhã brota, como num acto de vontade.

“O homem que dorme, toma, muitas vezes, sem dar por isso, a posição que teve outrora no ventre materno. É um símbolo. O repouso volta à origem: origem da vida, origem da inspiração; retempera-se; o dobrar-se, de noite, tem essa significação. Ora, retemperar-se não é agitar-se: é como que refugiar-se, é procurar para a seiva humana, pela concentração pacífica, aumento de vigor, é restaurar em nós a vida orgânica e a vida sagrada, po um feliz repouso, pela oração, pelo silêncio e pelo sono.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Manhãs:

    • O primeiro despertar deve ser um «Sursum Corda!» - «Corações ao Alto!».

    • A oração matinal:

      • Prima;

      • O que realmente importa na oração do intelectual é que ela surja da honestidade do seu coração e renove o seu propósito.

    • A meditação​;

    • A celebração da missa.

  • Serões:​

    • Descansar em leituras ou filmes, informativos ou de lazer construtivo​;

    • Actividades suaves, iniciar o repouso do querer;

    • Fechar o dia presente e preparar o dia seguinte;

    • Oração do fim de dia.

IV - Os instantes de plenitude

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IV – Os instantes de plenitude

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Os subcapítulos anteriores trataram do entorno do trabalho, isto é, do que seria um aproveitamento ideal do tempo para que o trabalhode estudo e produção intelectual seja mais vigoroso e frutífero. Agora, falamos dos «instantes de plenitude», o tempo em que a nossa atenção está plenamente focada no estudo.

A aplicação do tempo para o estudo não tem uma regra definida. Ela terá de ser conciliada de forma personalizada para cada um de nós, visto que todos nós vivemos em circunstâncias distintas. Sabemos, no entanto, que são suficientes duas horas por dia - se de manhã ou à tarde, é deixado ao critério de cada um.

Sertillanges sugere que, se temos horários fléxiveis, se conseguimos o sono reparador, e se temos garantida a solidão e o silêncio, que demos preferência à manhã. Mas esta «solidão» não é literal. É um estado:

“Há presenças que duplicam a quietação, em vez de a dissiparem. Tende junto de vós um trabalhador activo, um amigo absorvido nalgum pensamento ou ocupação harmoniosa, uma alma de escol que compreenda a vossa obra e se una com ela, e apoie o vosso esforço com silenciosa ternura e ardor por vós comunicado: isso não é distracção, é ajuda.”

Eis os conselhos práticos que nos dá Sertillanges, antes do trabalho propriamente dito: 

  • Assegurar de que as interrupções serão nulas ou mínimas;

  • Saber de antemão o que queremos fazer e como fazê-lo (daí a importância do tempo de planear o trabalho);

  • Levantar da cama com prontidão, à hora exacta;

  • Refeições frugais;

  • Fugir das conversas vãs e das visitas inúteis;

  • Ler os jornais com moderação (vamos tomar a liberdade de acrescentar: visitar as redes sociais com muita moderação);

 

Ao passar à acção, devemos evitar, acima de tudo, o trabalho deixado pela metade - antes pouco tempo dedicado à atenção plena e ao aprofundamento, que muito tempo de constante dispersão. 

Chamemos então a inspiração. renovando o espírito de oração. Estejamos abertos e sensíveis à verdade - isto dá-se por meio do desejo interior de servi-la. Não estamos aqui para inventar fantasias, mas para ver e dizer o que vimos. É necessário que o nosso coração esteja subordinado à primazia da realidade e à soberania de Deus para que não confundamos a nossa função. A imaginação tem uma função neste quadro: ela é os nossos pés, são eles que nos transportam pelo caminho. A Verdade é o Caminho; e o que nos guia é a mão de Deus, unida à nossa pelo laço estabelecido pela oração.

Relembremos o valor da solidão. Entendemo-la agora com mais profundidade. O essencial da nossa solidão de intelectuais consagrados é o resguardo e a ausência de interferências que nos desviam do nosso propósito. A companhia que favorece o nosso propósito é bem vinda. A solidão do outro que vibra com a nossa é desejável.

“Lar onde no escritório do marido se vê a mesa ou o açafate de costura da esposa, onde o amor adeja em silêncio, deixando flutuar as asas ao vento dos nobres sonhos e da inspiração, é imagem do trabalho. Na unidade da vida inaugurada pelo matrimónio cristão, há lugar para a unidade de pensamento e de recolhimento. Quanto mais juntas estiverem as almas irmãs, tanto mais defendidas estarão contra o ruído exterior.”

Por fim, não devemos consentir que nos assaltem o tempo que consagramos ao estudo. É bom que saibamos, com bons modos, fechar a porta a encontros inoportunos.

“O tempo de um pensador, empregado conscienciosamente, é, em todo o rigor, caridade universal. Não o apreciamos doutra maneira. O homem da verdade pertence ao género humano como a própria verdade: não há que temer egoísmos, quando nos isolamos em benefício desta universal benfeitora dos homens.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Há presenças que duplicam a quietação, em vez de a dissiparem.

  • Conselhos práticos:

    • Assegurar de que as interrupções serão nulas ou mínimas;

    • Saber de antemão o que queremos fazer e como fazê-lo (daí a importância do tempo de planear o trabalho);

    • Levantar da cama com prontidão, à hora exacta;

    • Refeições frugais;

    • Fugir das conversas vãs e das visitas inúteis;

    • Ler os jornais com moderação (vamos tomar a liberdade de acrescentar: visitar as redes sociais com muita moderação);

  • Evitar, acima de tudo, o trabalho deixado pela metade​.

  • Chamar a inspiração. renovando o espírito de oração.

  • A companhia que favorece o nosso propósito é bem vinda.

  • Não devemos consentir que nos assaltem o tempo que consagramos ao estudo.

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NO PRÓXIMO CAPÍTULO

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Capítulo V – O campo do trabalho

I – A ciência comparada

II – O tomismo, quadro ideal do saber

III – A especialidade

IV – Os sacrifícios necessários

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FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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