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A Vida Intelectual

A.-D Sertillanges

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Este resumo não se propõe a substituir a leitura da bela obra do Pe. Sertillanges, mas pretende apresentar o núcleo dos ensinamentos por ele transmitidos, aliciando o leitor a conhecê-la em profundidade. Uma das finalidades no LABORATORIUM é fazer uso do conhecimento do passado ao olhar o presente, portanto procuraremos atender aos problemas contemporâneos ao estudar esta obra. Este resumo é, simultaneamente, um manual de estudo e uma reflexão filosófica.


 

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Capítulo VII – A preparação do trabalho

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Leitura, memória e notas são os constituintes de um só processo, que é a preparação do trabalho. Distinguimos aqui quatro modos de leitura, conhecimento indispensável ao intelectual; como manter a memória ordenada, e como fazer anotações de forma justa«Leia-se relativamente pouco, retenha-se ainda menos. (...) As notas, espécie de memória exterior a nós, "memória de papel", como dizia Montaigne, devem reduzir-se enormemente com relação às leituras; mas podem alargar-se mais do que a recordação, supri-la, e, por conseguinte, aliviá-la e socorrê-la no trabalho em medida aliás difícil de assinalar».

a) A LEITURA

A LEITURA

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I – Ler pouco

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I - Ler pouco

"Ler pouco" é uma expressão relativa. Naturalmente, a leitura é para nós uma das principais tarefas. É um meio de aquisição de conhecimento, de contacto com o génio e com a verdade, de educação e formação do espírito humano; por isso é preciso ler muito.

No entanto, a leitura é um portal de comunicação unidireccional, na qual somos os recipientes, e assim como há escritos bons, sublimes e edificantes, há escritos maus, estupidificantes, e até mesmo perigosos. Há escritos que repetem fórmulas e há aqueles que pouco acrescentam à causa do saber. Estima-se que hoje existem mais de 150 milhões de livros publicados, e aqui não contamos os artigos de jornal, revista, ou outras publicações. Por isso, é preciso ler pouco; é preciso ler o essencial para a nossa formação enquanto seres humanos e intelectuais, e o necessário para a nossa especialidade.

Nos próximos subcapítulos aprofundaremos a função da leitura; por ora pretendemos definir a atitude justa e necessária para o nosso propósito.

“A leitura desordenada não alimenta, entorpece o espírito, torna-o incapaz de reflexão e concentração e, por conseguinte, de produção; exterioriza-o no seu interior, se assim se pode dizer, e escraviza-o às imagens mentais, ao fluxo e refluxo das ideias que ele se limita a contemplar na atitude de simples espectador. É embriaguez que desafina a inteligência e permite seguir a passo os pensamentos alheios e deixar-se levar por palavras, por comentários, por capítulos, por tomos.”

«Vamos aos livros como a dona de casa vai à praça». Vamos aos livros com sentido de diligência e utilidade. Não queremos sobrecarregar o pensamento e a memória a ponto de perturbar a inteligência. São os nossos instrumentos sagrados. Precisamos desenvolver o senso da verdade que nos acompanhe a todo o momento e que nos oriente no meio da selva de escritos. 

“Não esperemos trabalho verdadeiro de quem cansou os olhos e as meninges a devorar livros; esse encontra-se, espiritualmente, em estado de cefalalgia, ao passo que o trabalhador, senhor de si, lê com calma e suavidade somente o que quer reter, só retém o que deve servir, organiza o cérebro e não o maltrata com indigestões absurdas.”

Quanto a jornais e outros meios de comunicação de notícias, «defendei-vos deles tanto mais energicamente quanto mais constantes e indiscretos são os seus ataques». Um dos deveres da comunicação social é informar, é investigar os assuntos que dizem respeito à comunidade - em nome desta - para que cada um de nós não tenha de fazê-lo no seu próprio tempo. É um trabalho digno e que exige, como qualquer vocação, a totalidade da dedicação pessoal. Mas o que acontece hoje de facto no jornalismo?

 

Os meios de comunicação hoje são praticamente uma só corporação. A maioria das notícias que recebemos em Portugal vêm, ou de agências europeias, ou de uma única agência nacional, e são repetidas por todos os jornais sem alteração. É um esforço da elite para firmar uma coesão social - se toda a gente receber a mesma notícia, todos terão a mesma ideia do que se passa no país; se todos lerem a mesma opinião, todos ficarão com a ideia de que é a opinião da maioria.

É importante manter-se ao corrente da actualidade, mas mais importante é saber seleccionar os acontecimentos que realmente merecem atenção. De seguida, falamos sobre a selecção das leituras.

Ideias-chave deste subcapítulo:


 

  • A leitura é um meio de aquisição de conhecimento, de contacto com o génio e com a verdade, de educação e formação do espírito humano; por isso é preciso ler muito.

  • Há escritos maus, estupidificantes, e até mesmo perigosos, por isso, é preciso ler pouco.

  • É preciso ler o essencial para a nossa formação enquanto seres humanos e intelectuais, e o necessário para a nossa especialidade.

  • A leitura desordenada não alimenta, entorpece o espírito, torna-o incapaz de reflexão e concentração e, por conseguinte, de produção.

  • Quanto a jornais e outros meios de comunicação de notícias, «defendei-vos deles tanto mais energicamente quanto mais constantes e indiscretos são os seus ataques».

II - Escolher

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II – Escolher

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Este princípio de selecção baseia-se na noção de que aquilo que lemos (ou vemos, como filmes, séries, etc) instrui-nos, para o bem ou para o mal. Influencia-nos, e por vezes manipula-nos. Queremos ser influenciados por boas ideias, e acima de tudo, regados pela verdade. Com este protocolo, não seleccionaremos apenas os livros, mas também nos livros. Para isto, será útil ter conselheiros cultos que nos possam orientar no princípio, mas acima de tudo, precisamos que nos acompanhe o desejo vital de conhecer a verdade, renovado pela oração e pela confiança em Deus.

O essencial, no princípio, é conhecer os grandes pensadores e as obras das ideias mestras. Hoje não é tarefa simples, já que a lista de pensadores creditados pelas escolas, pelas universidades, pela comunicação social, pela sociedade no geral, é demasiado extensa, e por isso confusa. A História humana não é uma linha contínua de progresso, mas uma miscelânea de acontecimentos, com ou sem ligação; e a história da Filosofia é uma miscelânea de doutrinas, também com ou sem ligação, misturadas com falsas e verdadeiras investigações. Mas não temamos. Tenhamos na consciência que precisamos daquelas obras onde a letra não é morta, mas adormecida, capaz de despertar ao mínimo toque o coração do buscador da verdade.

“Haveis de ler, sem prevenção, o que se escreve de bem; lereis os autores modernos, e tanto mais quanto precisardes de informações, de noções positivas em evolução ou em crescimento; quereis ser do vosso tempo; não deveis ser um «tipo arcaico». Contudo, não tenhais a superstição da novidade; gostai dos livros eternos, que encerram as verdades eternas.”

Para seleccionar nos livros é necessário o chamado "pensamento crítico", mas desde já nos precavemos contra esta expressão. O pensamento crítico não significa criticar à partida, nem lançar-se a uma obra com o intuito de criticá-la - esse é o primeiro passo para não entender nada. É preciso saber ler. Saber ler apenas as palavras é analfabetismo funcional. A verdadeira literacia é o acto de vivificar na imaginação e na memória a experiência que está retida nas palavras. 

Para dar um exemplo prático, quando o leitor lê, «os filmes que vemos influenciam-nos», se não estiver simultaneamente a lembrar-se de atitudes reais, suas ou de outros, onde esse facto foi testemunhado, então está apenas a memorizar palavras. Confiar mais nas frases do que na realidade é passo certo para que a inteligência se atrofie no fetichismo.

Então, ler com pensamento crítico é apenas manter aceso o senso da verdade, para que os eventuais enganos (e por vezes ilusionismos deliberados) dos autores não nos atinjam com dano. Porém, ler uma obra pressupõe também abertura e humildade. De um certo modo, os autores são, em dados momentos, nossos superiores. 

“Além disso, lembrai-vos que até certo ponto um livro vale o que vós valeis, e o que fizerdes valer. Leibniz utilizava tudo; S. Tomás extraiu dos hereges e dos paganizantes do seu tempo um grande número de ideias, sem sofrer de nenhuma. O homem inteligente encontra em toda a parte inteligência, o louco projecta sobre todas as paredes a sombra da sua fronte estreita e inerte. Escolhei o melhor que puderdes; mas procurai que tudo seja bom, largo, aberto ao bem, prudente e progressivo.

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Conhecer os grandes pensadores e as obras das ideias mestras.

  • É preciso saber ler. Saber ler apenas as palavras é analfabetismo funcional. A verdadeira literacia é o acto de vivificar na imaginação e na memória a experiência que está retida nas palavras.

  • Ler com pensamento crítico é apenas manter aceso o senso da verdade. Ler uma obra pressupõe também abertura e humildade.

  • Lembrai-vos que até certo ponto um livro vale o que vós valeis, e o que fizerdes valer.

  • O homem inteligente encontra em toda a parte inteligência, o louco projecta sobre todas as paredes a sombra da sua fronte estreita e inerte.

III – Quatro espécies de leitura

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III – Quatro espécies de leitura

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Sertillanges destingue quatro modos de leitura que servem propósitos diferentes e têm exigências particulares:

1) Leituras de fundo - para nos formarmos e ser alguém;

2) Leituras de ocasião - para nos informarmos com vista a um fim particular;

3) Leituras de estímulo ou edificação - para nos animarmos a trabalhar e praticar o bem;

4) Leituras de repouso - para relaxar, distrair.

Leituras de fundo

Podemos dizer que é nas leituras de fundo que reside a verdadeira educação

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EDUCAÇÃO: Do Latim EDUCARE, composta por ex, “fora”, e ducere, “guiar, conduzir”.

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A leitura que nos forma como homens e intelectuais requer uma qualidade dócil. Relembremos o que dissemos acima sobre o pensamento crítico. A crítica gratuita, sem uma base de princípios e convicções fundamentadas nas verdades eternas, é ignorância. Todos nós temos o senso da verdade que auxilia o juízo, mas podemos ter a consciência situada a anos-luz desse senso. Para nos aproximarmos dele precisamos de ter contacto com as palavras e as ideias que o despertam. É isso que é a cultura. Aculturarmo-nos, no melhor sentido da palavra, é conhecermos as linhas mestras da Criação por meio daqueles que as viram antes de nós.

«Para entender um só livro é preciso ter lido muitos livros», disse Jorge Luis Borges. No começo da nossa jornada, a humildade é o elemento decisivo. Quando nos lançamos a uma obra, façamo-lo com alguma subserviência. Façamo-lo com uma atitude de respeito e fé provisória. Não devemos entregar toda a nossa responsabilidade enquanto seres morais, isto é, não queremos delegar para o autor do livro a nossa faculdade de ajuizar, mas como diz S. Tomás, «É preciso acreditar no professor».

“Comecemos por escolher os guias em quem confiar. A escolha de um pai intelectual é negócio muito sério. Aconselhamos S. Tomás para as doutrinas superiores; contudo, não podemos circunscrever-nos a ele. Três ou quatro autores estudados a fundo para a cultura geral, três ou quatro para a especialidade e outros tantos para cada problema que surja, é quanto basta. Recorremos a outras fontes a título de informação, não a título de formação, e só com isso já será diferente a atitude de espírito.”

Leituras de ocasião

A diferença entre procurar formação ou informação reside no posicionamento intelectual. Quem procura formar-se posiciona-se mais como uma criança que pouco ou nada sabe, aberto às respostas que vêm, curioso e agradecido pelos ensinamentos, ao passo que quem procura informar-se já possui um plano, já tem alguma orientação e sabe onde quer chegar. Procura informar-se em função de um objectivo a alcançar. Assim passamos gradualmente para as leituras de ocasião.

Este modo de leitura requer mestria, domínio mental. Ao contrário da passividade que exigia a leitura de fundo, esta exige um espírito de acção. Procuramos algo específico, tomamos notas, construímos raciocínios sobre o que lemos. Acima de tudo, lemos sob o princípio de submissão à verdade

Leituras de estímulo ou edificação

Estas leituras requerem ardor e empenho. Falamos agora dos nossos livros de ouro. São aqueles que falam directamente ao nosso espírito. Sabemos o que disse o apóstolo: «a letra mata mas o Espírito vivifica». Não é que a palavra escrita contenha encerrada em si a verdade, mas, no acto da leitura, o Espírito pode despertar dentro de nós a verdade, que era o potencial da palavra. Isso também depende da nossa vontade. Temos essa experiência: ler algo que nos arrebata, ou que nos firma na realidade, enfim, que nos inspira e integra.

Esta selecção cabe a cada um, pois ela depende das afinidades de cada alma individual. O certo é que convém ter à mão esse «remédio da alma» para os momentos mais difíceis. Pela repetição se firma o hábito, e ao repetirmos estas leituras que nos elevam, mesmo lendo a mesma frase vezes sem conta, não só nos capacitamos a aprofundar os significados latentes, como também aumentamos a chance de nos elevarmos de estados depressivos.

Leituras de repouso

As leituras de repouso requerem liberdade. Procuramos o descanso, a distracção, o relaxamento. Para isto não há regra, porém demanda-se alguma sensatez. Há livros que distraem demasiado, desviando-nos do nosso caminho, outros que não distraem o suficiente, causando mais perturbação que relaxamento. É evidente que será proveitoso para nós seleccionar escritos que produzem o efeito pretendido. Sigamos o conselho de S. Tomás: «uma só coisa repousa verdadeiramente: a alegria».

“Lede o que agrada, o que não entusiasma demasiado, o que não prejudica e, já que sois consagrado, mesmo quando vos distraís, tende a inteligência de ler, em igualdade de proveito e de repouso, o que for útil de outra maneira e ajudar a completar-vos, a ornar o espírito, a ser homem.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Leituras de fundo:

    • Para nos formarmos como homens;​

    • Requerem docilidade;

    • Nelas reside a verdadeira educação.

  • Leituras de ocasião​:

    • Para nos informarmos com vista a um fim específico;

    • Requerem mestria, domínio mental;

    • Exige um espírito de acção;

    • Lemos sob o princípio de submissão à verdade.

  • Leituras de estímulo ou edificação​:

    • Para nos inspirarmos a trabalhar e fazer o bem;​

    • Requerem ardor, empenho;

    • “A letra mata mas o Espírito vivifica”.

  • Leituras de repouso:​

    • Para nos distraírmos;​

    • Requerem liberdade;

    • Lede o que agrada, o que não entusiasma demasiado, o que não prejudica;

    • Mesmo quando vos distraís, tende a inteligência de ler, em igualdade de proveito e de repouso, o que for útil de outra maneira e ajudar a completar-vos, a ornar o espírito, a ser homem.

IV – O trato com o génio

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IV – O trato com o génio

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Se há progresso na civilização, ele não é uma lei inevitável, mas sim um movimento potencial que por vezes é actualizado. Este potencial é actualizado - tornado acto - pelas mãos de génios. Isto é, o progresso acontece apenas onde tem um génio capaz de ver o que era ignorado, dizer o que era silenciado, descobrir relações que permitem inovar nos artifícios humanos.

O génio é superior, e só de contactar com ele nos elevamos. Qualquer um de nós, no caminho da vida intelectual verdadeira, testemunha o sentimento de graça que nos envolve ao contactar com um verdadeiro génio. Temos uma dívida para com ele, e pagaremo-la com o nosso trabalho. 

“Pensamos muito pouco no privilégio da solidariedade que multiplica a utilidade de viver, que alarga o mundo e nos torna a estada nele mais nobre e mais grata, que renova para cada um de nós a glória de ser homem, de ter o espírito aberto aos mesmos horizontes que os seres superiores, de viver alto e de fundar com os nossos semelhantes, com os nossos inspiradores, uma sociedade em Deus.”

O génio é nosso mentor, médico, pai intelectual. Ensina-nos, ajuda-nos, aprova-nos, dá-nos confiança quando nos sentimos semelhantes a ele por pensar da mesma forma ou ver as mesmas coisas. Também nos defende, tendo preparado para nós o caminho de antemão, e ele fez tudo isto sem sequer nos conhecer pessoalmente, mas ele fez por nós - porque a maior qualidade do génio é esta: ele trabalha para a humanidade, e cada homem é potencialmente priveligiado só por esse génio ter existido. O privilégio é potencial porque existe a nossa parte do acordo - podemos simplesmente ignorar os grandes homens.

“Neste mundo de pensamento sublime, parece que se desvenda o rosto da verdade; fulgura a beleza; o facto de seguir e de compreender estes videntes leva-nos a pensar que somos da mesma raça, que reside em nós a Alma universal, a Alma das almas, o Espírito, que só espera que nos adaptemos a Ele para desabrochar em discursos divinais, pois que, no manancial de toda a inspiração, sempre profética, há Deus, o primeiro autor de tudo o que se escreve (V. Hugo).”

Quais são as qualidades do génio? «O génio renova tudo», «o génio vê dentro», «o génio simplifica», «o génio estimula e desperta a confiança». Até os seus erros são geniais. Aconselhamos vivamente o leitor deste site a ler este subcapítulo directamente de Sertillanges (e, é claro, todo o livro), pois será impossível comunicar com o mesmo brilhantismo.

Este subcapítulo é tão belo, uma verdadeira homenagem a todos os grandes homens. Não dá para simular neste pequeno resumo a delicadeza, a graça e a nobreza com que Sertillanges se expressa. Ao lê-lo, percebi que estava também eu a contactar com um homem de génio, e era acima de tudo a sua humildade, declarada naquele louvor, que me tocava profundamente. 

“Os seus erros nao são erros vulgares: são excessos que todavia não excluem a profundeza e acuidade de visão; seguindo-os com cautela, estamos certos de ir longe e além disso podemos resguardar-nos dos seus passos em falso. Tudo concorre para o bem dos que amam a Deus, afirma o Apóstolo; tudo igualmente pode ser de utilidade aos que se fixaram na verdade. Formando o espírito, ajustados e fechados os quadros de pensamento, não desesperemos de medrar em contacto com os erros geniais. Não nos expondo indiscretamente ao perigo, há nele uma graça, revela-se-nos uma esfera nova; mostra-se-nos uma face do mundo, talvez com demasiado exclusivismo, mas, em todo o caso, de modo potente; a animação, que se apossou do espírito, não mais o largará; os trabalhos de indagação exigidos pela própria resistência consolidam-nos; sairemos melhor formados, melhor guardados, por ter corrido estes sublimes perigos sem neles sucumbir.
Destas observações deduz S. Tomás o dever de gratidão para com quem assim nos tentou, se de qualquer sorte contribuíram para o nosso progresso, nalguma coisa. Directamente, só somos devedores de verdade; indirectamente, devemos, aos que erram, o acréscimo de formação que, por intermédio deles, a providência nos proporciona.

(...)

Devemos aprender a bem pensar sobretudo no trato com os sábios; mas a própria loucura comporta um ensinamento; quem escapa ao seu contágio, extrai dela uma força. «Quem tropeça sem cair, dá um passo avante».”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Reconhecer e agradecer o génio.

V – Conciliar em vez de opor

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V – Conciliar em vez de opor

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Já afirmámos que a verdade está em toda a parte, e que a nossa missão é captá-la e expressá-la. Se estudarmos S. Tomás veremos como ele extrai de cada sistema o que nele há de verdadeiro, ignorando o que não serve. Se queremos uma vida intelectual fecunda, devemos aprender a colocar a nossa atenção nesse ponto. É muito fácil, especialmente neste tempo da ágora virtual, prendermo-nos em discussões partidárias, enviesadas e inúteis. Gastaremos melhor o nosso tempo se o dedicarmos a buscar as várias faces da verdade. 

Para fazê-lo precisamos abandonar o estilo "guerrilha" e formar-nos verdadeiramente como intelectuais. A palavra positiva e o exemplo positivo têm muito mais impacto que reprimendas e discursos afectados. Não significa isto que devemos retirar-nos do combate pela defesa do bem, do belo e do verdadeiro, mas talvez a forma mais adequada e produtiva seja por outra via. Jesus falava muito do Reino de céu e pouco sobre os hipócritas. Falava muito sobre o perdão e o amor e pouco sobre o pecado. A medida justa está dada no seu exemplo.

Há momentos para nos opormos, mas a maioria do tempo devemos procurar conciliar as faces da verdade, guardá-las e mostrá-las.

“As colunas do templo assentam as bases sobre as lajes, afastam-se, dispõem-se em galerias dispersas, mas ligam entre si os arcos e, por numerosas nervuras, acabam por sustentar uma só abóbada. Vós, que buscais, não o ruído, o choque dos partidos, a contenção ou a excitação factícia da inteligência, mas unicamente a verdade, reparai neste abrigo e acolhei-vos à sua sombra.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • A palavra positiva e o exemplo positivo têm muito mais impacto que reprimendas e discursos afectados.

  • Há momentos para nos opormos, mas a maioria do tempo devemos procurar conciliar as faces da verdade, guardá-las e mostrá-las.

VI – Assimilar e viver

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VI – Assimilar e viver

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Devemos ler da mesma forma que nos alimentamos. O corpo assimila o que lhe é útil e descarta o inútil, transforma os nutrientes em energia e nós convertemos a energia em acção. Do mesmo modo, devemos assimilar as ideias úteis, boas, verdadeiras, e convertê-las em acção, comportamento, hábito. No meio deste processo está a nossa consciência e a nossa vontade.

A linguagem é um instrumento, é um meio, não um fim. É fulcral utilizá-la conforme o nosso propósito - a educação, cujo fim é a sabedoria. Aliamos a docilidade necessária para receber os ensinamentos com a iniciativa necessária para colocá-los em prática. Para esta façanha não é indiferente o modo de ler, ou a qualidade da leitura. Como referimos acima, «a verdadeira literacia é o acto de vivificar na imaginação e na memória a experiência que está retida nas palavras»; esta é uma forma de colocar o que pretendemos, onde fica claro que a nossa participação inteligente é exigida. Eis alguns ditos de Sertillanges que ajudam a compreender esta ideia:

“(...) o que faz a ciência não é o sistema de sinais proposto (a linguagem), mas o trabalho da razão sobre eles.

 

(...) nem o ensino consegue vencer o espírito negligente.

 

(...) O que acima de tudo nos interessa é o que é, não o que o escritor diz; e o que o nosso espírito pretende não é repetir, mas compreender, ou seja, tomar consigo, absorver vitalmente, e, enfim, pensar por si*.

 

(...) Ninguém pode instruir-nos sem nós. A leitura propõe-nos verdade; temos de a fazer nossa.”

* A expressão "pensar por si", idealmente, não significa a mera crítica infundada. Este "pensar por si" vem com o acto de "absorver vitalmente". As nossas ideias têm uma genealogia e uma origem. Absorvemos as suas sementes do meio cultural, por osmose ou por opção. "Pensar por si", idealmente, significa pensar segundo as ideias que escolhemos livremente, que acrescentam e nos levam para mais perto da sabedoria, e não somente pelas que se formaram em nós pela negligência da nossa atenção.

As palavras são sinais, e são mesmo sinais indicadores. Nelas não está a realidade, mas elas apontam para a realidade. Se elas fossem perfeitas não haveria ambiguidade na linguagem, o que eliminaria a semântica, a poesia, a metáfora, a analogia, etc; também não haveria mal-entendidos, mas o preço de tal sistema seria a conversão da inteligência humana em inteligência artificial. Existe um provérbio chinês que diz o seguinte: «Um homem aponta o céu. O tolo olha o dedo, o sábio vê a lua». É assim também na comunicação. Um homem diz palavras, o tolo fixa-se apenas nas palavras, o sábio olha a realidade que elas expressam. «A fonte do saber não está nos livros, está na realidade e no pensamento».

“Só entramos na intimidade dos génios participando na inspiração deles; escutando-os de fora, arriscamo-nos a não os ouvir. Não é com os olhos nem com os ouvidos que se ouve uma palavra sublime, mas sim com a alma erguida ao nível do que lhe é revelado, com a inteligência iluminada pela mesma luz.

Eis, novamente, a importância da oração. A oração é a expressão de um desejo; e o nosso é que a inteligência seja iluminada por essa luz. Assim iluminados, e abordando o génio com a atitude devida, evitamos o perigo, ou a tentação, de extrair do seu trabalho meras fórmulas. A verdade é viva. A verdade está no juízo, não na proposição. 

Um exemplo prático: A Bíblia afirma, em Mateus 13:36, na explicação da parábola do trigo e do joio (sobre a qual escrevemos este artigo):

 

«a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno;»

Qual é a verdade prática desta afirmação? Depende o que entendemos por "filhos do reino" e "filhos do maligno" na nossa realidade concreta do dia-a-dia. Se julgamos alguém como "mau" por um determinado comportamento, podemos condená-lo à condição de ser joio e tratá-lo mal, pois um "filho do maligno" não tem lugar no reino, pois isto está escrito na Bíblia e supostamente é a verdade. Neste caso, uma suposta verdade levou-nos a ter uma atitude imoral, não cristã, e consequentemente não coerente com a Verdade. Jesus Cristo, mais que o julgamento, ensinava o perdão e a misericórdia. A nossa justiça é imperfeita, mas Deus é perfeitamente justo - por isso só Ele pode julgar com verdade absoluta o carácter de um homem. Por outras palavras, só Ele sabe quem é verdadeiramente um "filho do maligno".

Este pequeno desvio foi uma tentativa de explicar que a verdade, na nossa dimensão, não pode ser cristalizada numa frase. Daí a necessidade da nossa participação constante, e da renovação do nosso desejo por ela.

“O livro é sinal, estimulante, ajuda, iniciador, não apenas substituto, nem prisão. O pensamento precisa de estar em nós. Lendo, não devemos ir para os mestres, devemos partir deles. Uma obra é berço, e não túmulo.

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Devemos assimilar as ideias úteis, boas, verdadeiras, e convertê-las em acção, comportamento, hábito. No meio deste processo está a nossa consciência e a nossa vontade.

  • É fulcral utilizar a leitura conforme o nosso propósito - a educação, cujo fim é a sabedoria.

  • Aliamos a docilidade necessária para receber os ensinamentos com a iniciativa necessária para colocá-los em prática.

  • O que faz a ciência não é o sistema de sinais proposto (a linguagem), mas o trabalho da razão sobre eles.

  • O que acima de tudo nos interessa é o que é, não o que o escritor diz.

  • As palavras são sinais, e são mesmo sinais indicadores. Nelas não está a realidade, mas elas apontam para a realidade.

  • Não é com os olhos nem com os ouvidos que se ouve uma palavra sublime, mas sim com a alma erguida ao nível do que lhe é revelado.

  • A verdade é viva. A verdade está no juízo, não na proposição.

  • Lendo, não devemos ir para os mestres, devemos partir deles.

b) A OGANIZAÇÃO DA MEMÓRIA
I - Que se deve reter?

A ORGANIZAÇÃO DA MEMÓRIA

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I – Que se deve reter?

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Nem todos possuímos uma memória prodigiosa, porém, existem técnicas que nos auxiliam a tirar melhor proveito dela. Como a leitura deve ser selectiva, assim deve ser a memória. Seleccionamos os conteúdos a reter pela sua utilidade relativamente ao nosso propósito, e pela sua qualidade - queremos reter tudo o que é de bem.

“Não vivemos da memória, servimo-nos dela para viver. Arquivai o que possa ajudar a conceber ou a executar, o que possa assimilar-se à vossa alma, responder ao vosso fim, vivificar a vossa inspiração e suster a vossa obra. O resto, esquecei-o.”

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II – Por que ordem reter?

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II – Por que ordem reter?

“Buscai sempre o que prende isto àquilo, o que condiciona isto e aquilo, de sorte que esta coordenação, e não um acervo de farrapos, se estabeleça na vossa memória. Cabeça bem feita é árvore genealógica, onde os ramos se prendem ao tronco e pelo tronco comunicam entre si: aí se revelam claramente os parentescos em todos os graus, exprimindo uma descendência em todas as suas relações e no seu conjunto.”

A memória não deve ser caótica, mas obedecer a uma hierarquia de valor. Se a ciência é conhecimento pelas causas, devemos ordenar as ideias segundo as suas afinidades e relações de dependência: saber o que vem primeiro, o fundamental - o simples, e o que se desdobra a partir dele por diferenças específicas - o complexo. Conservar, antes de tudo, as ideias mestras, axiais, de sorte que sirvam de massa-mãe; novas ideias serão como ingredientes diversos que a ela acrescentam e, ora a enobrecem, ora constituem cada tipo de pão.

“Um pensamento novo actua retrospectivamente; um archote alumia também para trás. Materiais abandonados transfiguram-se, quando ordenados em relação a uma ideia. Então tudo se recria em nós e toma vida nova. Para isso, é mister que estejam abertos os caminhos da claridade, que os pensamentos estejam em ordem e comuniquem entre si.

A mente desordenada é aquela que pensa que as andorinhas vêm porque chegou a Primavera; a mente ordenada sabe que a Primavera chegou porque vieram as andorinhas. A mente invertida é a que pensa que bebemos água porque temos sede; a mente desperta percebe que temos sede porque precisamos da água para viver.

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III – Como reter?

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III – Como reter?

Passamos então para as indicações práticas de como aperfeiçoar a memória. S. Tomás de Aquino propõe quatro regras e um conselho:

1) ordenar o que se quer reter;

2) aplicar a isso o espírito;

3) meditar nisso com frequência;

4) no acto de reminiscência, tomar pela extremidade a cadeia das dependências, que o resto seguir-lhe-á.

O conselho de S. Tomás é ligar a memória das coisas intelectuais à das coisas sensíveis. Desta frase, aproveitam-se dois ensinamentos: 1) o que pensamos fica associado ao momento em que o pensamos, e dessa forma, as circunstâncias do mundo sensível presentes nesse momento podem ajudar-nos a evocar a memória do pensamento; 2) Este ensinamento transcende a questão que estamos agora a tratar, mas vale reter: ter sempre o mundo real como referência, ou dito de outro modo, reportar as palavras lidas, ouvidas ou pensadas à experiência real de onde elas possam ter surgido.

Ordenar:

“Se quereis reter, atendei às ligações e às razões das coisas; analisai, procurai os porquês, observai a genealogia dos acontecimentos, as sucessões e dependências, imitai a ordem matemática, onde a necessidade, partindo do axioma, chega às mais longínquas conclusões. Compreender a fundo, aprender em seguida e introduzir no espírito, não anéis a esmo, mas uma corrente, é assegurar a coesão do todo. A união faz a força.”

Aplicar o espírito:

Quando nos encontramos face a uma ideia sublime, há um dever de guardá-la. Para isto é necessário a aplicação do espírito: focar a atenção, repetir a ideia no nosso íntimo, deixarmo-nos impregnar por ela, sem reservas, até ao ponto de podermos repeti-la com naturalidade. «Tratando-se dum livro, não o fecheis sem que o possais resumir e apreciar».

Meditar:

Como o músculo atrofia quando não é usado, as grandes ideias hibernam no nosso espírito quando não são atendidas. Meditar nelas mantém-nas presentes. Como os edifícios precisam de constante manutenção, nós precisamos cultivar o hábito de meditar nas ideias que servem à nossa obra. Isto não se faz em meio a uma vida de perturbações e ansiedades. É preciso espaço, silêncio, solidão (Capítulo III).

Rememorar:

Puxar pela extremidade da corrente, que é o ponto mais superficial ou imediato da cadeia das ideias. Aqui também nos vale o conselho de S. Tomás: ligar a memória das coisas intelectuais às coisas sensíveis. Por exemplo:

“lembro-me de ter pensado num plano de estudo; este plano escapa-me; mas sei que me encontrava então em tal lugar, ou que falava com tal amigo, ou que isto se prendia com determinado conjunto de operações intelectuais, com determinado aspecto da minha vocação, ou ainda que o projecto se inspirara numa leitura anterior (...) Para retomar a ideia desvanecida, despertarei a impressão do lugar, da sociedade amiga, do conjunto ideológico, da missão a desempenhar, do livro analisado ou do trabalho executado.”

Da mesma forma, como pensamento gera pensamento e, atendendo à genealogia das ideias, poderemos recuperar qualquer coisa na memória pelos encadeamentos lógicos. Retém-se melhor aquilo que prendeu a atenção, e a atenção geralmente prende-se pelo sentimento de admiração. Importa-nos sobremaneira cultivar esse sentido de admiração, qualidade de uma alma jovem e humilde.

Em suma, o que nos importa relativamente à memória não é tanto a quantidade do conteúdo, mas sim a ordem, a qualidade, e a capacidade do seu emprego.

Ideias-chave do subcapítulo «A Organização da Memória»:


  • Seleccionamos os conteúdos a reter pela sua utilidade relativamente ao nosso propósito, e pela sua qualidade - queremos reter tudo o que é de bem.

  • Conservar, antes de tudo, as ideias mestras, axiais.

  • A memória não deve ser caótica, mas obedecer a uma hierarquia de valor.

  • Como reter:

    • Ordenar:​

      • Atender às ligações e às razões das coisas; analisar, procurar os porquês, observar a genealogia dos acontecimentos, as sucessões e dependências;​

      • Compreender a fundo, aprender em seguida e introduzir no espírito;

    • Aplicar ao espírito:​

      • Focar a atenção, repetir a ideia no nosso íntimo, deixarmo-nos impregnar por ela, sem reservas, até ao ponto de podermos repeti-la com naturalidade.​

    • Meditar:​

      • Cultivar o hábito de meditar nas ideias que servem à nossa obra. Isto não se faz em meio a uma vida de perturbações e ansiedades. É preciso espaço, silêncio, solidão.​

    • Rememorar:​

      • Puxar pela extremidade da corrente, que é o ponto mais imediato da cadeia das ideias.​

      • Ligar a memória das coisas intelectuais às coisas sensíveis.

  • Cultivar o sentido de admiração, qualidade de uma alma jovem e humilde.

c) AS NOTAS
I – Como tomar notas

AS NOTAS

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I – Como tomar notas

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Distinguimos dois tipos de notas:

1) As que dizem respeito à preparação remota do trabalho - as que provêm das nossas leituras ou palestras de formação;

2) As que dizem respeito à preparação próxima do trabalho - as que provêm das nossas leituras ou palestras relativas à obra que pretendemos realizar.

As primeiras serão, naturalmente, mais abrangentes relativamente aos assuntos, enquanto as segundas dizem respeito à nossa especialidade.

Em ambos os tipos de notas, assim como evitamos o excesso de leitura e a sobrecarga da memória, evitamos anotações em abundância. As anotações são, além de um meio de ordenar o pensamento e as ideias, um auxílio da memória. Quanto mais vastas e complexas são, menos nos rendem, por isso devem ser breves, sintéticas e na quantidade justa.

Devemos tomar notas com reflexão e sobriedade, não cedendo ao impulso de anotar tudo o que cause impressão. Tomemos o tempo de analisar e reduzi-las ao essencial.«O facto de uma coisa ser boa e bela, precisa teoricamente, não é motivo para a escrever. Há muitas coisas belas nos livros: ireis acaso copiar a biblioteca nacional? Ninguém compra um casaco só por ser bonito, mas porque lhe serve».

As notas devem partir de uma assimilação do que foi lido, portanto escritas por nós, e não em vão copiadas. Isto não significa que não podemos transcrever, mas quando o fazemos, que seja porque não conseguimos expressar melhor o pensamento ali contido. Veja «Assimilar e viver».

“Leituras, lembrança, notas, tudo isto deve completar-nos, portanto assemelhar-se a nós, ser da nossa espécie, da nossa missão, da nossa vocação, corresponder aos nossos fins e à forma dos gestos pelos quais podemos e queremos utilizá-los.”

Focamo-nos agora especificamente no segundo tipo de notas. Quando nos propomos a trabalhar um assunto específico, meditamos sobre ele, deixamos que ele ocupe o espírito e o pensamento, e traçamos um plano provisório que nos oriente nas leituras e nas reflexões - as nossas anotações nesta fase são de orientação e são elas que vão, não só estabelecer os limites da nossa pesquisa, como também imprimir a dose de expectativa que precisamos para uma jornada frutífera. «Só se encontra o que se procura».

A leitura deve ser tendenciosa, isto é, ter como centro o nosso objectivo, mesmo que o autor do livro que lemos tenha um objectivo distinto do nosso. Por vezes encontramos material necessário onde não era expectável.

Nesta fase temos duas opções:

 

1) estabelecer um plano pormenorizado de onde partirá a documentação - deste modo a pesquisa é menos exaustiva, o trabalho mais leve, talvez mais alegre.

2) começar pela documentação, obedecendo a um conjunto de orientações pré-estabelecido - desta forma cobriremos mais do campo e exploraremos todos os recantos, o que produzirá uma selecção minuciosa.

 

De qualquer forma, as nossas anotações, que partem dos materiais ou do plano, afigurar-se-ão o esqueleto estrutural da nossa obra.

“As notas assim compreendidas, notas de estudo, notas de inspiração, representam um trabalho rendoso, cujos frutos recolhereis nos momentos que qualificamos de plenitude. As outras notas (as que tomámos como preparação remota, isto é, nos momentos de leituras de formação), sem escaparem à obrigação do esforço, terão por vezes o carácter de feliz achado, de acaso. As melhores serão as que o estudo aturado convida a ceifar e a enceleirar como a riqueza de uma vida.”

Ideias-chave deste subcapítulo:


  • Evitar notas em abundância.

  • Tomar notas com reflexão e sobriedade.

  • Tomar notas a partir da assimilação do que foi lido.

  • Relativamente ao segundo tipo de notas:

    • A leitura deve ser tendenciosa;​

    • Devemos ter um plano de orientação das leituras e reflexões;

    • Podemos estabelecer um plano pormenorizado de onde parte a documentação; ou começar pela documentação.

II – Como classificar as notas

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II – Como classificar as notas

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Sendo que este livro foi escrito em 1920, as propostas de organização que Sertillanges nos oferece não incluem o sistema virtual. Porém, hoje contamos com ele. Organizar as nossas notas no computador ou em papel é uma questão de escolha pessoal, pois se prende com as afinidades e facilidades de cada um.

Tembém o modo de classificar as notas deve ser coerente com a pessoa e o trabalho que tem em mãos. Sertillanges recomenda o sistema de classificação decimal, utilizado, por exemplo, nas bibliotecas. Mas se este género de sistemas nos causam mais confusão que ordem, será melhor optar pelo modo mais natural para cada um. O que é importante guardar deste subcapítulo é a utilidade de manter as nossas anotações em ordem, portanto classificadas, seja de que forma for. Mesmo que um pensamento útil nos apareça num momento inoportuno, devemos anotá-lo num pedaço de papel, no telemóvel, ou onde pudermos, e mais tarde classificá-lo na devida ordem.

“Cada qual deve formar, sendo possível, um catálogo de matérias, com divisões e subdivisões, em conformidade com as notas que pretende tomar.”

III – Como utilizar as notas

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III – Como utilizar as notas

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“Eis-vos chegados ao momento de utilizar a documentação. Fizestes a colheita das notas com o intuito da obra actual; tendes, além disso, de reserva as notas antigas que a ela se referem mais ou menos directamente. Juntai tudo, referindo-vos, quanto possível, ao catálogo e às indicações que ele vos dá. Em seguida, duas vias se abrem diante de nós”

Se optamos por um plano pormenorizado, numeramos os artigos sucessivos desse plano. De seguida numeramos as notas, agrupando-as em montes, cada um respectivo a cada número do plano, e está o trabalho preparado para ser redigido.

Se optamos pela pesquisa documental orientada, sem plano pormenorizado, tratemos agora de estabelecer esse plano, que surgirá do próprio material, isto é, a sucessão das ideias a apresentar. Focamos nas ideias mestras e agrupamos as restantes à sua volta. Findo este trabalho, caso hajam ainda espaços em branco, tratamos de preenchê-los, e se necessário faremos pesquisas complementares. De seguida procedemos como na opção anterior, e o trabalho está pronto a ser redigido.

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NO PRÓXIMO CAPÍTULO

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Capítulo VIII – O trabalho criador

I – Escrever

II – Desapegar-se de si e do mundo

III – Constância, paciência e preserverança

IV – Fazer tudo bem feito e até ao fim

V – Não ir além das próprias forças

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FRANCISCA SILVA

Da sede de conhecer

Ao abraço do Ser

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